sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Eu, a Bel Pesce e o Ryan Lochte

Eu sempre gostei muito de musica, e aprendi a tocar teclado/piano ainda criança. 



Ao longo do tempo, descobri que o eu queria mesmo era tocar violão: era mais pratico, portátil, e o som que mais me atraia. Com toda minha base teórica e conhecimentos adquiridos, tentei aprender a tocar violão por conta própria. Não conseguia. Tentava, estudava, me dedicava, mas não ia pra frente. Energizada pelo misto de frustração e MUITA vontade de tocar violão, eu criei um método próprio de tocar violão, e não conheço ninguém que o faca da mesma forma que eu, e ate hoje, é como eu toco violão - nunca aprendi o jeito “certo”.




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Acabei de me inteirar sobre o assunto Bel Pesce. Passei boa parte do meu tempo hipnotizada pela historia. Estou chocada com a falta de vergonha na cara de manipular a informação e a verdade da forma como ela manipulou, com o intuito de fazer fama, dinheiro, e de se mostrar superior a nos, seres humanos improfícuos que não cursamos nem 1 curso no MIT, vá dizer 5.

Ela quis provar com meias verdades, quão especial, quão suprema, e quão acima de tudo ela é - uma pessoa com poderes titânicos, como ja diria o Mamonas Assassinas… Uma pessoa que fantasticamente conseguiu cursar 5 majors/minors/ no MIT, e trabalhar no Google, na Apple, na Microsoft, e criar/fundar uma empresas de 47 milhões, e enfim, ser a mais magnânima e suprema entre nos - a pica das galáxias. Não tava bom ser "so" as coisas que ela ja era de VERDADE - o que pra mim ja seria demais - tinha que inventar e ser MAIS. Pra que?



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O Ryan Lochte é um exímio nadador. Fera mesmo, e isso é inegável, vide as medalhas e prêmios, capacidade técnica, etc.  Ele uma vez falou que ele seria o Michael Phelps se não existisse Michael Phelps. E obviamente fez o circo que fez no Rio recentemente. O cara ja é um mega nadador, bonito, com uma vasta opção de carreiras pela frente, que não a natação, mas não bastava admitir que deu uma de playba-pop-killa - não, teve que inventar e ser MAIS. Pra que?



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O Lochte é o que se chama nos EUA de attention whore, uma espécie de “topa tudo por dinheiro” so que ao invés de dinheiro, ele faz de tudo pra chamar atenção, pra estar na mídia, pra ser entrevistado, pra ser admirado, querido e idolatrado. Mas ele não é superior a ninguém.


Acho incrível por si so que um ser (brasileiro, indiano, americano, marciano…) consiga ser admitido no MIT, seja para fazer 1, 2, 5 ou 10 cursos… É mais admirável ainda que esse mesmo indivíduo, tenha ido trabalhar em estagio não-remunerado na Apple ou Google, ou os 2. Qualquer fato acima é demais, e alguns são mais impactantes que outros - claro, mas isso NAO TE FAZ SUPERIOR a ninguém

Uma pessoa pode ser mais qualificada que a outra. Uma pessoa pode ser mais talentosa que a outra. Uma pessoa pode ser mais fisicamente apta que a outra. Mais disciplinada que a outra.

o conceito de seres superiores é coisa mística.

Ou pior:



Quer vender o seu peixe? Legal, pode vender. Mas faca-o com base em fatos e, de preferencia, com humildade. Não queira ser ou estabelecer superioridade com relação a ninguém. Se você sentir muita necessidade de usar esse conceito na sua vida, tente assim:



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Ter sido capaz de criar um método para tocar violão foi incrível pra mim, não porque eu fiquei milionária ou me estabeleci como a próxima Joan Jett, ou fui reconhecida pela minha suposta genialidade - mas porque supriu o meu propósito de tocar The Killers. Era isso que eu queria, e eu consegui. Me importa se o mundo sabe dessa minha capacidade? Not really… Mas as pessoas que conhecem normalmente me falam “CARACA! Vc tinha que ir pra um programa de televisão mostrar essa habilidade!” Mas logo logo elas entendem que a ideia não é bem essa, a ideia é se divertir e ponto. Se eu ganhasse dinheiro com isso, por exemplo, não ia ficar chateada. Se quisessem me colocar no rock and roll hall of fame por causa disso, também não me ofenderiam. Mas eu mentir ou aumentar meus feitios pra conseguir qualquer coisa, ai fica feio.

Eu não me acho super especial e iluminada por ter criado um método de tocar violão. Eu sou especial e iluminada assim como você é especial e iluminado: temos composições únicas que nos tornam exclusivos nesse plano que existimos.


Eu tenho as minhas conquistas, invenções e descobertas das quais me orgulho. Eu utilizo de alguns desses fatores para ganhar dinheiro, para me divertir, para tentar divertir os outros,  enfim, para a vida. Mas eles são total e 100% condizentes com a realidade.

Eu sei que alguns dos conhecimento e experiências que adquiri requereram muito sangue, suor e lagrimas. E por mais que eu ache que, com base no tanto que sangrei, suei e chorei, eu merecesse mais (dinheiro, reconhecimento, status, poder, etc), a REALIDADE é que eu tenho a vida que eu tenho, o dinheiro que eu tenho e a fama que eu tenho. Para eu ter mais dinheiro, mais fama, mais poder, eu preciso continuar trilhando caminhos, vencendo desafios, aprendendo coisas… enfim, ralando o coco!



Ter mais talento, dinheiro, aptidões, fama, etc não me tornam SUPERIOR a ninguém. Me tornam mais rico, mais famoso, mais capacitado. A partir do momento que eu for para a mídia divulgar meu método inacreditável de tocar violão, eu estou me sujeitando ao escrutínio publico, e mais seriamente, a encontrar alguém que o faca melhor que eu. Eu não posso então montar no meu unicórnio e rechaçar toda a realidade que não seja a minha, muito menos INVENTAR uma realidade que não seja a minha.


Gente, sejam demais. Sejam gênios. Sejam incríveis. Mas não sejam babacas. Não sejam mentirosos. E não se achem superiores a ninguém so porque vc consegue (insira seu super poder AQUI). Compartilhe a parte boa de tudo que você pode oferecer com o resto do mundo, e não se utilize disso pra tirar onda, chamar atenção a toa, enfim, fazer papelão… 


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