segunda-feira, 9 de março de 2015

O que os brasileiros podem aprender com o tailgate

Vamos começar pelas definções básicas  (e ilustradas!)

Tailgate é isso:

Lembrem que “tail” em inglês significa “rabo”... logo, o “rabo” das caminhonetes que também é um portãozinho (gate) para facilitar a carga e descarga... 


E isso também:


Aqui o conceito de “rabo” é um pouquinho diferente... gente chata que fica sempre na cola...

Mas para os objetivos deste post, tailgate é uma festa que acontece antes de eventos esportivos, nos estacionamentos dos estádios, com comida, bebida, jogos, musica, tudo num estilo “acampamento de verão na Lagoa do Siri”:




Os torcedores tem a oportunidade de socializar, beber e comer sem ter que gastar fortunas com as comidas e bebidas dos estádios, e curtir aquele momento ao máximo, fazendo um verdadeiro “esquenta” antes da partida:



Ouvi que ontem o pronunciamento da Dilma causou grande comoção e polêmica, pelo que ela falou (ou não falou), e pelo panelaço que aconteceu durante/depois. Não quero e não vou me posicionar sobre os aspectos políticos da celeuma... Mas quero e vou me posicionar sobre o aspecto social porque acho que podemos aprender uma coisinha ou duas com o tailgate party americano...

Ontem, enquanto rolava o pronunciamento ( e o panelaço), nós estávamos tailgating pro jogo de abertura da liga de futebol dos EUA, e o jogo inaugural do time da cidade (onde o Kaká está jogando atualmente):



Todo mundo estava bebendo. Mas comendo também. E jogando futebol. E futebol americano. E frisbee. E brincando com as crianças.

O pessoal estacionado na nossa frente era de algum país onde falam espanhol. Podia ser Argentina. Ou México. Ou Colômbia. Todos rivais da gloriosa seleção brasileira de futebol. Eles sabiam que nós estávamos num grupinho de brasileiros (outras nacionalidades também, mas nossa festa tinha uma maioria brasileira). Num dado momento, eles pediram pra eu tirar uma foto do grupo deles, e eu o fiz. Quando nosso gelo acabou, eles perceberam, e nos deram extra. Nós tínhamos muita cerveja, então levamos algumas pra eles. Quando o ônibus dos jogadores passou, todo mundo aplaudiu e gritou Kaká. Quando entramos no estádio, junto com mais 62 mil pessoas, não teve empurra-empurra. Ninguém xingou ninguém. Ninguém foi desrepeitado por usar uma camisa da seleção argentina. Ou brasileira. Ou colombiana. Ou do time adversário (New York City F.C.)

Porém sei que o mesmo não ocorreu no Brasil ontem: as pessoas que se manifestaram, a favor ou contra o pronunciamento da presidente, as pessoas que escolheram participar ou não do panelaço, foram desrespeitadas. Teve empurra-empurra moral. Tá tendo ainda...

Penso que no Brasil existe uma dificuldade de expressão muito grande – essa camaradagem rapidinho se transforma em “comprar brigas” não pela simples defesa de um ponto em que se acredita, mas para defesa E ataque. Para causar uma comoção, um tremor de terra, uma baderna. E quase sempre de uma forma desrespeitosa. Fica difícil falar muito mais sem tomar partido, mas a lição que eu acho que precisa ser aprendida é que o seu vizinho pode torcer pro time adversário, e isso não deveria ser uma carta branca pra ele te ofender toda vez que o time ganha. Da mesma forma, você não pode agredi-lo quando o time dele perde. As pessoas tem seus próprios times, seus próprios pontos de vista, suas próprias crenças e costumes, que são  variados, e nem sempre coincidem com os nossos.  E tudo bem, isso não é, ou pelo menos não deveria ser, um problema. Acredite, manifeste-se, apóie seu time e/ou seu ponto de vista, mas o faça cordialmente, sendo não só educado, mas também atento a opinião alheia, para não tomar atitudes grosseiras, e gerar um conflito desnecessário...

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